Quando falamos em prevenção de Alzheimer é quase impossível hoje em dia não esbarrar no termo “reserva cognitiva”, mas é verdade que a prevenção da doença ainda é um assunto de fontes escassas e, não raramente, contraditórias.
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É importante falar, e veremos com mais calma em outros posts, que a prevenção da doença se resume em dois grupos de fatores: MODIFICÁVEIS E NÃO MODIFICÁVEIS. Dentro do primeiro grupo podemos incluir diversas condições pertencentes ao nosso estilo de vida. Diabetes e hipertensão não controlados, gordura abdominal e sedentarismo, isolamento social e baixa escolaridade são alguns exemplos dessa categoria. No segundo grupo estão todas as pré-disposições aquém da nossa vontade. Mulheres tem maiores chances de desenvolver a doença e todos aqueles que tiveram pais ou irmãos com Alzheimer tem uma PEQUENA pré-disposição a ela.
Mas deixando esses fatores um pouco de lado, a reserva cognitiva nada mais é do que o exercício contínuo e atualizado do nosso cérebro. Pense nessa reserva como a poupança de um banco. Todos os novos aprendizados, cursos, faculdades, estratégias, técnicas, idiomas, receitas, caminhos que aprendemos ao longo de nossa jornada são pequenos depósitos feitos em nossa reserva cognitiva. É lógico que quanto mais complexas forem essas atividades, dependendo mais de nosso esforço para que possamos assimilar o conteúdo proposto, maior será esse depósito e consequentemente nossa poupança. É a função da ginástica cerebral proposta pelo curso Supera, por exemplo.
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Quando, se necessário for, uma doença como o Alzheimer se manifestar em nosso sistema, vamos atrasar – por tempo indeterminado – alguns sintomas iniciais utilizando e gastando a reserva que construímos. Assim como o geriatra Dr. Adriano Gordilho costuma dizer, vamos ter o diagnóstico da doença de Alzheimer, mas por conta do nosso estilo de vida e da poupança cerebral construído ao longo dela, não teremos ainda a DEMÊNCIA de Alzheimer. Sim, o estágio da doença já é incurável, mas com isso ganharemos mais tempo com autonomia e independência preservados.
É possível encontrar duas pessoas com praticamente os mesmos exames de imagem e zonas cerebrais afetadas (perdas semelhantes), mas em uma avaliação clínica – ou um rápido bate-papo – é possível constatar o grande avança no declínio cognitivo (atenção, memória, habilidade de fala, raciocínio…) em uma das idosas e na outra que manteve sua mente ativa e em constante renovação talvez um diagnostico nada ou pouco perceptível em uma conversa. Ainda que tenham praticamente o mesmo exame, uma delas já manifesta sintomas como confusão mental, não lembrar de seus familiares e até dificuldade na caminhada enquanto a outra não vivenciou nada disso.
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A Reserva Afetiva se cria sendo presente!
Tão importante quanto a reserva cognitiva, que não vai impedir o surgimento da doença mas talvez preservar alguma autonomia atrasando o surgimento de certos sintomas, é a RESERVA AFETIVA.
Essa tenho certeza que você não ouviu falar, mas não é difícil avaliar a sua. Olhe para trás e revisite os seus vínculos afetivos com pais, avós, irmãos, primos, vizinhos, amigos, filhos e cônjuges. Você consegue encontrar grandes amizades fortalecidas, irmandades criadas e aquela sensação boa quando lembramos de fulano ou beltrano? Provavelmente esse sentimento seja recíproco.
A vida em sua fragilidade – nesse caso estamos falando na velhice com Alzheimer – faz com que seja necessário a tomada de certas decisões muito, mas muito difíceis. Essa decisão, infelizmente, nem sempre poderá ser tomada por aquele a quem mais interessa, mas por seus familiares que hoje assumem a posição de “guardiões da dignidade” de seus pais ou avós.
Seria muito romântico dizer, e algumas sociedades até mesmo em nível político já falharam em reconhecer isso, que filhos devem cuidar de pais e essa é a regra absoluta. O romance nem sempre faz parte da vida quando o amor e o sentimento não vem com reciprocidade.
O ato do cuidar é sim uma obrigação e há não como violar esse princípio básico, mas é utópico não consentir que é infinitamente mais fácil cuidar de uma mãe que foi presente do que de uma mãe que se ausentou.
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Cuidar de alguém requer um grande desafio: ABDICAR. É preciso buscar novos significados para antigas crenças, desconstruir muitos planos, rearranjar objetivos de acordo com nossa nova realidade, lidar com a frustração decorrente de todos os aspectos anteriores, assumir obrigações e riscos e ainda lidar com o emocional sendo resiliente o bastante para não se deixar abater por todos os desafios. Agora exija todo esse esforço físico, geográfico e emocional de alguém que não teve uma reserva afetiva construída por seus pais e avós. As dificuldades aumentam exponencialmente pela necessidade de uma REDENÇÃO.
“Eu serei o pai que o meu pai não foi pra mim”, agir dessa forma é uma das maiores belezas do ser humano, e uma qualidade gritante do sexo feminino, que internaliza seus desafios sem que se tornem um afastamento emocional com severas conseqüências. Mas ainda assim é um ato do cuidar que carrega um peso, uma angústia, uma mágoa e sem dúvidas será um cuidar NÃO saudável para aquele que duela contra a ausência ou os traumas do passado frente a novas obrigações.
A família e os vínculos afetivos que criamos acabam sendo a resposta para muitos problemas possíveis em nossa vida e também em nossa velhice. Não estou afirmando que ser um bom pai ou filho garantirá uma vida saudável, mas estou afirmando que dessa forma terás criado uma poupança de afeto para que alguém levante a mão e diga: “Eu vou passar por isso ao seu lado” e esteja decidido a encarar todas as dificuldades tomando decisões nunca imaginadas pelo bem de quem ama.
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As famílias funcionais e presentes são cada vez mais raras em nossa sociedade. Filhos saem do ninho cedo, pais trabalham muito, intercâmbios, busca por oportunidades e a correria do cotidiano afasta e diminui cada vez mais o tempo que pais e filhos convivem sob o mesmo teto. Disso acabamos alimentando a grande dificuldade do cuidar futuro, a abdicação de parte dos nossos planos e vidas pelo bem do outro…porém, o outro com quem não foi criado um vínculo afetivo.
John Douglas, fundador da Unidade de Apoio Investigativo do FBI finaliza seu livro (Mindhunter) com uma belíssima frase que me levou a construção dessa coluna:
“Meus 25 anos de observação também me provaram que criminosos são mais “criados” do que “nascidos assim”, o que significa que, em algum momento da vida, alguém que exerceu uma influência negativa muito forte poderia ter exercido uma influência positiva muito forte. Portanto, o que acredito de verdade é que além de dinheiro, polícia e presídio, o que mais precisamos é de amor.”
Em camadas muito abaixo do que é considerado crime – muito embora a frase racionalize mas não justifique crimes como abandono – família e amor são as maiores poupanças que um ser humano pode criar ao longo de sua vida. Só assim teremos a certeza de não estarmos sozinhos quando a tormenta surgir.
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