Essa é a dúvida de muitos filhos e netos preocupados com suas atitudes, e não demora muito alguém me envia mensagem ou me questiona nos bastidores dos eventos. Nunca é algo público ou declarado, na verdade é um receio velado de quase todo familiar apaixonado: “Será que devo contar que ela tem Alzheimer?”.
Essa não é uma questão fácil de responder, isso pois não há uma resposta certa, e se observada de todos os ângulos encontraremos algumas contradições.
Todos nós fomos educados desde cedo sob princípios básicos de convivência e, salve algumas exceções, a maioria sabe que deve respeitar os mais velhos, que nossos avós são frágeis e que devemos sempre, em qualquer hipótese, dizer a verdade. Acontece que nem sempre a teoria se aplica na prática, mas seria realmente difícil explicar para uma criança que deve contar a verdade a seus pais, avós e professores, mas que em alguns momentos da vida vai ser crucial refletir sobre isso.
Essa educação convencionada nada mais é do que o valor moral entre o certo e o errado, o bem e o mal, e é notório que mentir não está, a priori, entre as coisas mais corretas a serem feitas, logo, mentir ou omitir infringe nossos valores morais.
Pergunte a um médico e ele provavelmente o aconselhará a falar a verdade, afinal de contas todo paciente tem direito a saber sobre seu diagnóstico. Os valores da medicina parecem duramente inflexíveis quando nas mãos de profissionais que lidam com números e prontuários, mas que se encarregam da difícil tarefa de dizer a verdade. Mas não é por acaso que em seus ensinamentos Jung diz “…ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana“. A individualização de cada caso faz com que a medicina vá de encontro com um de seus princípios mais básicos: a não-maleficência. Se entregar ao subjetivo de cada questão os faz romper a teoria e os torna capacitados a tocar outra alma humana.
O ato de ponderar cada caso – ou situações em nossas vidas – questionando aquilo que tomamos por certo é a aplicação da ética. Está em saber discernir quando e como os valores morais se aplicam. Essa é, portanto, uma questão que mexe com nossa ética moral.
Sim, é direito do paciente ter acesso ao seu diagnóstico, (percebeste a vírgula? Agora foca…) quando esse diagnóstico puder trazer algo de positivo para sua nova etapa de vida. Agora sejamos objetivos, falando em Alzheimer, é importante cogitar falar a verdade quando o diagnóstico é obtido no primeiro estágio da doença, quando o idoso vai poder declarar suas vontades para quando outros falarão por ele, quando o idoso vai poder reestruturar questões financeiras, dizer aquilo que não foi dito e principalmente colaborar com o familiar que busca o melhor tratamento.
E quando não dizer? Quando há sinais de depressão expressivos, quando a doença já atingiu estágios em que a única diferença que fará será a frustração do familiar e a tristeza do paciente, trazendo efeitos negativos no equilíbrio familiar e no andamento do tratamento.
Agora esqueça a resposta do médico e dê atenção a resposta MAIS relevante aqui: a sua! Você, mais do que ninguém, vai saber o que seu familiar gostaria, e vai refletir com base no que estás disposto a fazer por sua felicidade.
Eu, Fernando, omiti da minha avó seu diagnóstico e aqui vão os motivos: pessoa simples vinda do interior, não tinha muita consciência do que era Alzheimer, e sempre que esquecia algo ria e dizia estar caduca. Quando comecei a falar sobre a doença incurável que a tomara conta as lágrimas corriam, a fúria surgia e o clima era caótico. Um dia parei em frente ao espelho e me perguntei se eu gostaria de ter alguém me relembrando de meu diagnóstico incurável, alguém que me trouxesse o obscuro sempre que eu entregasse a chance de viver momentos alegres sem rancor. Eu gostaria de ser lembrado tantas vezes por dia daquilo que me faria esquecer disso, e de todo resto?
Sempre vai doer em alguém. Me doeu dizer para minha avó que não havia nada de errado com ela e que tudo era normal, mas se valor moral é a distinção entre o bem e o mal, a atitude ética sempre vai ser aquela que avalia os “poréns” e que guia nossas convicções.
Lembre-se, vai doer em alguém, se doeu em você o nome disso é altruísmo.
“Lembre-se, vai doer em alguém, se doeu em você o nome disso é altruísmo.”
Essa frase resume muito bem!! Convivo com meus dois avós em casa e em muitos momentos a gente tem que simplesmente dizer que está e vai ficar tudo certo! Não acredito que a está altura da vida caiba mais a eles se preocupar com coisas que não farão mais diferença…
Sim, e é verdade, dói em alguém! Quando somos forçados a tomar uma atitude que não gostaríamos, ainda que para o bem de quem amamos, sofremos junto!
Obrigada. Deu-me a resposta à pergunta que me castigava. Muito Obrigada, mesmo.
Nossa, fico muitooooo feliz! Eu que agradeço o carinho! <3
Falar ou não sobre o diagnóstico do Alzheimer é uma decisão difícil porém o doente normalmente se acha sem problemas e irá certamente questionar o diagnóstico, a menos que este esteja muito no início do processo.
É verdade, por isso vale a pena cogitar entrar na fantasia e tornar a vida dele menos angustiante, sem verdades desnecessárias.
Estou passando por uma situação muito difícil com meus pais e adorei suas palavras para me confortar. Ele tem problemas cardiacos, neuropatia e estenose, a qual não pode operar por causa do coração. Ela é extremamente depressiva, está iniciando um processo de esquecimento e foi diagnosticada com um aneurisma cerebral. Quando ela souber do aneurisma vai entrar no fundo do poço. Estou nesse dilema e ela não aceita remédio e médicos por natureza, imagine com esse quadro? E sou filha única!
Olá Fernando! Vim em busca de uma resposta á esta aflitiva questão. Texto conciso porém impresso de tocante discernimento sob uma ótica que revela uma grande e delicada Alma. Sou muito grata.