Todo profissional que cuida ou atende idosos na sua rotina diária já foi questionado por pacientes ou familiares sobre um parente ou amigo que tem o diagnostico de Doença de Alzheimer. Como perceber que alguém pode estar desenvolvendo a doença? Como cuidar? É hereditário?O paciente tem a consciência das perdas ou sofre com elas?
A doença de Alzheimer é um dos mais de 60 tipos de demência, que pode ser definida como uma doença degenerativa, ou seja, um processo progressivo de perda das funções cerebrais mais nobres, como memória, comportamento, linguagem, atenção, capacidade de planejamento, representando um declínio do estado geral de uma pessoa em relação a um estado anterior, influenciando no seu desempenho para as Atividades de Vida Diária (auto-cuidado, continência, transferências, alimentação).
É o tipo de demência mais comum, representando aproximadamente de 50 a 70% dos casos. No inicio comumente ocorre o comprometimento da memória, o que pode auxiliar no diagnóstico diferencial com outras demências (demência da doença de Parkinson, demência pós AVC,dentre outras).
Os casos “genéticos” são mais raros, representando algo em torno de 5%, e geralmente a doença se apresenta de forma mais grave, com evolução mais rápida e inicio em idades mais jovens (antes dos 60 anos). Os outros 95% são de aparecimento esporádico.O risco de desenvolver a doença é mais alto (de 2 a 3 vezes) em indivíduos que tem parentes de primeiro grau acometidos, assim como esse risco é aumentado na grande maioria das doenças.
Existem fatores de risco não modificáveis e modificáveis. Dentre os não modificáveis podemos citar a idade (quanto mais vivemos maior o risco de desenvolvermos a doença), sexo feminino, hereditariedade e portadores de Síndrome de Down. Dentre os fatores de risco modificáveis encontram-se a hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes, sedentarismo, obesidade, isolamento social, depressão, baixa escolaridade e traumatismos cranianos. Importante frisar que os fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento da doença de Alzheimer são os mesmos que devemos abordar para diminuir o risco de desenvolver doenças do coração.
A doença se divide em 3 fases, desde um período de menor dependência até um em que a dependência é total. A primeira fase (Leve) dura de 2 a 3 anos, aproximadamente, com a presença de sintomas vagos difusos, instalação lenta onde a principal característica é a memória alterada. Também podem apresentar desorientação, alterações da linguagem, aprendizado, concentração e crítica comprometida.
Já a segunda fase (Intermediária) dura de 3 a 5 anos, aproximadamente, também é progressiva e lenta, com maior deterioração de memória e sintomas mais pronunciados. Acompanham alterações no cálculo, julgamento, planejamento e abstração. As emoções, personalidade e comportamento social também podem ficar progressivamente alterados. Já, com o avanço desta fase ocorrem alterações de postura, marcha e tônus muscular.
A última fase (Grave) tem uma duração variável, pois cada vez mais existem recursos para o tratamento das complicações da doença (infecções, desidratação, lesões de pele) e os indivíduos podem viver muitos anos nesta fase. As funções do organismo já se encontram mais gravemente comprometidas. A fala já esta prejudicada. Mais comumente se observa incontinência urinária e fecal. Podem aparecer sintomas e sinais neurológicos grosseiros: rigidez, convulsões, tremores e movimentos involuntários. Esta fase evolui até o estado total vegetativo, culminando com a morte.
O diagnóstico da Doença de Alzheimer é eminentemente clínico, principalmente através da história clínica, realizada com o paciente, com a família e com o cuidador. Nenhum exame mais diferenciado, substitui esta conversa entre o médico, o paciente, a família e o cuidador. É preciso ter tempo, bom-senso e paciência de todos os envolvidos, para que o diagnóstico seja feito, excluindo-se todas outras doenças que podem interferir no quadro.
É fundamental que o médico tenha tempo hábil para a realização de uma consulta completa, onde possa fazer uma historia bem feita, ter tempo para examinar completamente o paciente e realizar os testes necessários. Complementando esta avaliação devem-se solicitar exames, não para confirmar o diagnóstico, mas a fim de descartar outras alterações que possam interferir na memória e que possam ser tratadas.
Uma vez realizado o diagnóstico, existem diferentes formas de conduzir a questão, de se dar o diagnóstico aos familiares e pacientes. Na fase leve recomenda-se dar o diagnóstico diretamente ao paciente. Desta forma possibilitamos a ele mais tempo para preparar-se para o futuro, maior possibilidade da participação no próprio tratamento e possibilidade de diminuir a sobrecarga da família. Novamente o bom-senso do profissional é imperativo, para ter a sensibilidade de trazer menos estresse a família, mantendo sempre a dignidade do paciente.
O tratamento medicamentoso da Doença de Alzheimer ainda não é realizado com o objetivo de cura, mas apenas de se tentar uma diminuição ou lentificação da progressão da doença. Infelizmente ainda não existe tratamento curativo, o que não significa que não se deva introduzir medicação. O tratamento não medicamentoso é tão importante quanto o realizado com medicamentos e deve ser sempre instituído. Deve ser sempre amparado na presença da equipe multiprofissional e aborda atividades de treinamento cognitivo, atividade física, estimulação dos sentidos, dentre outros.
A Doença trás consigo modificações permanentes na dinâmica familiar e todos os aspectos da vida dos pacientes e cuidadores. A busca por grupos de apoio e profissionais habilitados no cuidado ainda é a melhor forma de proporcionarmos informação e dignidade aos indivíduos acometidos e sua família.