Brasil e Portugal comemoram o dia dos avós no dia 26 de julho, dia considerado pela igreja católica como sendo também o dia de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus.
É uma pena que boa parte de todos nós tenhamos que nos contentar com boas e distantes lembranças daqueles que são parte fundamental de nosso passado. É sabido por todos, embora cause desgosto lembrar, que no ciclo natural da vida, os avós serão sempre a primeira prova da finitude do ser humano, mas não parece justo aprender essa lição logo com eles.

Meu querido avô que a vida levou cedo.
Hoje pela manhã eu recebi em casa uma cesta de produtos que nos fazem lembrar dos avós. A ação maravilhosa do Supermercado Rissul incentivava os netos a prepararem um café da manhã especial para eles, nossos queridos avós. Muito lindo. Porém, eu vou acordar na sexta-feira, colocar o café, a bolacha e o mel na mesa, sentir os cheirinhos afetivos daquilo que minha avó costumava comer, e ficarei por fim com as doces – e algumas difíceis – lembranças do tempo que eu a tinha ali, logo do outro lado da mesa.
Todos nós viemos com um grande defeito de fabricação. Há uma falha em nosso sistema na hora de reconhecer a morte de quem amamos antes de uma ameaça real. Não temos a compreensão plena do fim. Todos sabemos que ele existe no final de cada linha da vida, mas nenhum de nós racionaliza isso até que haja um prenúncio iminente àqueles que amamos. O efeito colateral dessa “farsa” que a gente cria, é que teimamos em pensar que sempre há muito mais tempo para abraços, beijos e “eu te amo”. A verdade é que não se sabe quanto tempo há, e não temos margem para “depois” ou “amanhãs”.
A minha mensagem hoje é de neto para netos. Peguem o telefone, liguem para seus avós, visitem, tome café da manhã, façam uma surpresa e estejam presentes enquanto a vida permite esse doce (re)encontro. Não há e nunca haverá nada que se compare a relação de avó e neto, e quando os vínculos físicos um dia se acabarem, só nos restará as lembranças do que foi um dia. Isso, claro, para aqueles que decidirem se fazer presentes na vida. Não há lembrança para se criar depois da morte.
Na Holanda, um dos melhores lugares no mundo para se envelhecer, 51% dos idosos enfrentam a solidão, 10% destes sofrem grande impacto físico e emocional por conta da via solitária. Outra pesquisa apontou que a solidão na terceira idade é tão nociva para a saúde quanto fumar 15 cigarros por dia ou viver em regime de alcoolismo, aumentando em 32% as chances de acidentes vasculares.
Existem vários tipos de solidão classificáveis. Tem aquela que nos torna reclusos por grande dificuldade na mobilidade. Tem aquela outra que é consequência de uma vida de reclusão. Tem aquela inegável dos que não criaram reservas afetivas e acabaram por não cativar aqueles ao seu redor. Mas há uma ainda pior, a solidão emocional de quem construiu uma família, e hoje não tem com quem compartilhar seu dia. Mas não é consequência da locomoção ou da ausência de alguém para compartilhar, mas a escolha dos filhos e netos em estar sempre ocupados com qualquer coisa MENOS importante.
O Estatuto do Idoso estipula que acima de 30 dias sem visita de parentes o quadro pode ser considerado de abandono, e o familiar acionado pelo Ministério público.

Minhas duas avós, Nilva e Marly.
As vezes deixamos de lado. Deixamos para o amanhã. Temos mil coisas para fazer, mas em algum lugar alguém espera sentado em um sofá ao lado de um telefone, talvez com o café passado, ou então um presente do natal anterior aguardando o dono buscar, ou com um sorriso guardado em um rosto pintado para receber a visita de quem se ama. As vezes é só a espera por um “Bom dia, vó”.
Você pode comprar presentes, casas, carro, até mesmo a falsa impressão de juventude. Mas não há alguém capaz de comprar tempo. Não perca o seu. É um tempo que não volta mais, mas nem precisa voltar para aqueles que resolveram fazer parte dele, não é?
Eles sempre estarão logo ali. Um dia logo ali do outro lado da mesa, outro dia logo ali do outro lado da passagem. Mas eu tenho certeza que vovó continua logo ali, ansiosa mas paciente para reencontrar seu amorzinho. Ah vó, espera mesmo! Eu vou demorar – tomara – mas sei que vou chegar um dia!
Feliz dia dos avós para TANTAS avós maravilhosas que conquistei pelo Brasil e pelo mundo, e para os meus avós Nilva, Ari e Marly, que ajudaram a construir quem sou hoje. Minha gratidão ETERNA.
Obrigado aos profissionais, amigos, família e parceiros Supera, Dialog Health e Sindihospa por tornarem possível chegarmos até tantos avó e netos.
Linda e sublime matéria!