Não é novidade que a doença de Alzheimer (DA) se consolidou como uma doença multifatorial nas últimas décadas. Estudos de diversas naturezas mostram que a DA é também considerada uma doença de estilo de vida – muito mais do que por conseqüência genética – e que certas mudanças em hábitos cotidianos podem ter grande impacto em nosso envelhecimento.
A forma como conduzimos nosso dia a dia, nossas relações afetivas, nosso vínculo com familiares e amigos, nossa exposição a desafios crescentes, a maneira como decidimos encarar obstáculos dentre outros aspectos que vão de um atitude otimista ao exercício físico regular são cada vez mais determinantes na maneira como nosso cérebro – não diferente do corpo – reage ao longo do processo do envelhecer.
Saiba mais: IDOSOS COM ALZHEIMER FICAM MAIS AGRESSIVOS À NOITE
Saiba mais: DEMÊNCIA CUSTA US$ 1 TRILHÃO PARA O MUNDO
Nós consideramos esses aspectos extrínsecos – relacionados ao estilo de vida e não a idade ou condições crônicas – como sendo fatores modificáveis. Sabendo aquilo que possivelmente trará uma conseqüência negativa no futuro, a decisão de seguir na mesma direção ou mudar de vez um hábito prejudicial está em nossas mãos.
A primeira etapa portanto é trabalhar a conscientização da doença de Alzheimer desde prevenção até sintomas e diagnóstico. A formulação de novas políticas públicas relacionadas a essas três etapas vai contribuir para que todos – a nível sociedade e também como indivíduos – possamos derrubar velhos estigmas e entender melhor o que talvez esteja acontecendo com nosso familiar na busca por um diagnóstico possível.
Porém algumas gerações anteriores podem começar a assumir um controle mais assertivo em seu envelhecimento futuro. Estudos comprovam que decisões tomadas em sua fase jovem vão impactar no futuro da sua saúde mental, trazendo também menor impacto econômico e social mais a frente. Não se trata objetivamente de evitar a doença de Alzheimer – quem sabe? -, pois ainda é impossível afirmar que tal ou tais coisas vão garantir sua proteção absoluta. O que sabemos é que algumas atitudes podem proteger seu cérebro de futuros danos, oferecendo mais reserva cognitiva e trabalhando a resiliência necessária quando o inesperado vira uma realidade. Além do mais, se você pudesse escolher entre ter Alzheimer com 60 anos ou com 75, o que você escolheria? Terrível escolha, eu sei, mas se a mudança de hábitos garantir mais 15 anos de vida com autonomia e independência, já faz valer a caminhada três vezes por semana.
Saiba mais: UM LIVRO INFANTIL PARA FALAR SOBRE ALZHEIMER COM AS CRIANÇAS!
Saiba mais: HIPERTENSÃO PODE ESTAR ASSOCIADA AO ALZHEIMER
Essa é a estratégia demonstrada pelo FINGER Study, que na Finlândia promoveu intervenções no estilo de vida de idosos incluindo exercícios físicos, treino cognitivo, atividades sociais, alteração de dieta e gerenciamento de questões metabólicas aplicadas em um grupo que ainda não apresentava sinais de demência, e que foi acompanhado por dois anos pelos pesquisadores. Com isso foi possível observar alguns indicadores de melhora no comprometimento cognitivo dos participantes ao final do estudo.
Tendo em mente que o número de idosos no mundo vem aumentando nas últimas décadas, não é difícil prever que o sistema de saúde nos países “envelhescentes” sofrerão uma enxurrada de pacientes com saúde fragilizada por hábitos e descuidos. Isso sem contar o número de idosos com demência que até 2050 triplicará atingindo centenas de milhões de pessoas entre idosos e seus familiares. Como então reduzir a incidência e os custos públicos e privados com a demência? Foi essa a pergunta feita pelos idealizadores do FINGER Study, que encontrou no gerenciamento de diversos aspectos da vida cotiana um palpite sobre como envelhecer melhor.
O Estudo longitudinal apontou em condições como diabetes, colesterol, pressão alta e excesso de peso um risco aumentado para a Doença de Alzheimer, mas embora não haja cura para a condição, talvez melhorando a qualidade de vida dos indivíduos conscientizando-os desse fato, o resultado possa ser alterado e a incidência da doença na população acabe sendo inferior ao hoje estimado.
Outros países pelo mundo também deram o pontapé inicial em seus próprios estudos multimodais, na França o MAPT, na Holanda o PreDIVA, que prevê medidas para reduzir condições cardiovasculares colhendo benefícios também para a saúde mental no processo do envelhecimento, Cuba com o 10/66 Study e muitos outros. O benefício colhido dessas experiências vai além de entender o que exatamente pode estar antecipando os danos cerebrais e quais alterações em nosso estilo de vida POSSIVELMENTE colaborarão com nossa qualidade para envelhecer, mas é possível também encontrar um alvo para mirar as política públicas. O legítimo dois coelhos com uma cajadada só! (Sim, a expressão correta é essa!).
Saiba mais: CONHEÇA A NETOTERAPIA
Um caso clássico para usar de exemplo é a relação das condições cardiovasculares como impacto e predisposição para o surgimento de demências como Alzheimer e demência cerebrovascular. Sabendo disso políticas públicas podem trabalhar a importância da prática de exercício físico com medidas aplicáveis, melhorar o planejamento urbano para tornar o exercício mais acessível para a população, criar diretrizes para retirar saleiros de mesas de restaurantes dentre outras propostas que em longo prazo trarão um impacto positivo para a vida de cada indivíduo, mas também uma resposta positiva na economiza e nos gastos de verba pública, que ao invés de serem investidos em tratamento de condições degenerativas e cuidados intensivos de longo prazo, vão poder ser alocados em prevenção e conscientização.