O envelhecimento populacional é um processo global que pode ser observado em praticamente todos os países do mundo, inclusive no Brasil. A chamada terceira idade ou o grupo denominado “idoso” difere dependendo a condição socioeconômica da população. Nos países desenvolvidos esse grupo inicia-se a partir dos 65 anos de idade. Já nos países em desenvolvimento a partir dos 60 anos.
Saiba mais: VAMOS VENCER A LUTA CONTRA O ALZHEIMER?
O atendimento a população idosa é a rotina no dia-dia do geriatra, mas é uma realidade para a grande maioria das especialidades medicas ou interprofissionais, como nutrição, odontologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Dentro de uma avaliação holística e completa um fator que deve ser avaliado com atenção especial é o que diz respeito ao uso de medicamentos.
O ato de se prescrever uma medicação sempre foi uma parte importante e fundamental no cuidado com os pacientes, ainda mais quando se fala do paciente idoso. Esse processo se torna mais complexo quando levamos em conta alguns aspectos, como: indicação precisa da medicação, a escolha da melhor droga, dose de inicio e manutenção e orientação do paciente frente à possibilidade de efeitos colaterais. Inúmeros fatores contribuem para o aumento do risco de desenvolvimento de uma interação entre as varias medicações utilizadas, dentre eles: fragilidade, presença de doenças associadas, comprometimento cognitivo, além do uso de muitas medicações, prescritas ou não.
Saiba mais: DESIDRATAÇÃO NO IDOSO PELA PERDA DA PERCEPÇÃO DE SEDE, O QUE FAZER?
O processo do envelhecimento normal trás consigo inúmeras alterações fisiológicas no organismo do individuo que serão fundamentais na ocorrência de efeitos adversos ao uso das medicações, alterações estas relacionadas à forma como essas drogas interagem no organismo humano.
Dentre as alterações que ocorrem no envelhecimento e que influem na ação dos medicamentos podemos citar:
- Absorção: o envelhecimento acarreta uma diminuição no peristaltismo do esôfago e estomago diminuição da acidez gástrica e conseqüentemente na absorção de determinadas drogas e diminuição no fluxo sanguíneo hepático.
- Distribuição: a diminuição da água corporal total, bem como da massa corporal, massa muscular e aumento da relação gordura/peso total retardam a distribuição das drogas alterando sua ação no organismo.
- Metabolismo: o fígado é o responsável por grande parcela da metabolização das drogas, portanto, a diminuição do fluxo sanguíneo hepático (40 a 50%), a diminuição do numero de hepatócitos e conseqüentemente diminuição em até 40% da massa total hepática fazem com que haja um maior nível circulante de drogas, com uma maior interação entre as medicações.
- Excreção: como conseqüência do envelhecimento fisiológico pode-se observar uma diminuição no fluxo plasmático renal, que pode chegar até 50% aos 90 anos, uma diminuição na filtração glomerular (de 30 a 40%), com conseqüente diminuição da função tubular.
Saiba mais: POR QUE A DEMÊNCIA AFETA MAIS MULHERES QUE HOMENS
Na pratica geriátrica do dia-dia não raro encontram-se pacientes fazendo uso de inúmeras medicações simultaneamente, caracterizando a chamada “polifarmacia”, que é definida como a utilização simultânea de duas ou mais drogas por um período de 240 dias ou mais e está relacionada ao uso de pelo menos uma medicação desnecessária num rol de prescrições de medicações supostamente necessárias. Estudos recentes revelam que os indivíduos com mais de 65 anos consomem um terço de todas as prescrições, apesar de corresponderem a apenas 12% da população.
Desta forma todo profissional deve questionar o paciente sobre o uso das medicações, inclusive daquelas ditas “naturais” que podem ser compradas pelo telefone e vendidas indiscriminadamente pela televisão. Deve-se lembrar que toda e qualquer medicação do mesmo modo trazem a cura ou o conforto podem trazer efeitos adversos dependendo da dose que é utilizada e que nos idosos, muitas vezes, a dose eficaz é menor do que no jovem.
Saiba mais: AS DIFICULDADES DO ESTUDO DA DOENÇA DE ALZHEIMER
O profissional que se dispõe a tratar a população idosa não está imune a ocorrência de efeitos adversos na prescrição de medicamentos, principalmente pelas inúmeras patologias que acompanham o processo do envelhecimento; deve ter a consciência de sua importância, considerando que quaisquer modelos de ação médica, para diagnóstico, tratamento e prevenção não tem apenas efeitos benéficos. A medida que passamos a entender mais o individuo como um todo e menos apenas a doença, melhores resultados passamos a obter como fruto deste atendimento e melhor para a saúde do nosso paciente.