Você sabe o que é Alzheimer? Você sabe quais são os primeiros sintomas da doença? Ou melhor, qual o principal indício do surgimento do Alzheimer em idosos a partir dos 65 anos? Provavelmente você responderá SIM para todas as perguntas acima, ainda que o conhecimento sobre a doença seja genérico, aquilo que boa parte da população entende quando falamos sobre Alzheimer.
Sim, você está certo, o Alzheimer é uma demência de perdas progressivas, e claro, a DA (doença de Alzheimer) ainda não tem uma cura. A outra resposta também está bem clara e você certamente tirou de letra, o sintoma que mais caracteriza a doença é o esquecimento.
O que essa grande parcela da população não sabe é que o Alzheimer não é a ÚNICA demência, e que sem sombra de dúvidas o esquecimento passa longe de ser fator determinante para o diagnóstico ou o pior dos sintomas quando mergulhamos mais a fundo. Porém, é de se esperar que um grupo abrangente de pessoas não conheça a fundo todas as doenças que nem sequer passaram por suas vidas, e infelizmente só buscamos esse conhecimento quando somos confrontados com um diagnóstico.
Saiba mais: SOLIDÃO TEM RELAÇÃO COM MAL DE ALZHEIMER, SUGERE ESTUDO
É aí que mora o problema – que não é de fato um problema. Se fizeres as mesmas perguntas acima para seus avós, eles provavelmente saberão menos do que você sobre Alzheimer. Isso pois nos últimos anos o brasileiro começou a discutir a principal demência – veja bem, principal, não única – em todos os veículos e plataformas. Já foi assunto de filme concorrendo ao Oscar, já ganhou personagem em novela da Globo, recentemente sites, blogs e instituições intensificaram a divulgação de prevenção, diagnóstico e tratamento e consequentemente a indústria farmacêutica virou sua atenção para esse mercado.
Todo esse processo de democratização do diagnóstico de Alzheimer acabou gerando um grande problema: o próprio diagnóstico.
Alguns anos atrás um médico poeta me disse em um evento em Pelotas – RS, que a pior invenção da medicina havia sido o diagnóstico. Na época eu não entendia muito bem, mas logo ficou claro que para muitos profissionais ou redes mal elaboradas de assistência, a melhor e mais rápida forma de se livrar de um paciente é com o diagnóstico, logo, não se faz necessária uma investigação minuciosa. Criança tem virose, adulto tem estresse e idoso tem Alzheimer, essas viraram as máximas!
Saiba mais: AOS 87 ANOS, IMIGRANTE ITALIANA CONCLUI FACULDADE E EMOCIONA COM TCC ESCRITO À MÃO
O termo que a Folha de São Paulo recentemente usou para isso foi “Alzheimerização” das demências, o que faz todo sentido quando outras demências mais tímidas como a vascular, a senil, a demência de corpos de Lewy, a DA associada ao Parkinson ou a frontotemporal acabam postas em um único balaio diagnosticadas e tratadas como Alzheimer.
A DA não define todas as demências, embora seja a mais comum entre idosos a partir dos 65 anos de idade – 75% dos casos de demência -, mas é importante ressaltar que outras 100 doenças podem levar à síndrome demencial.
Quando somamos um sistema de assistência falho com poucos recursos diagnósticos a uma escassez de conteúdo disponível para que a população busque informação de qualidade, o resultado acaba sendo, dentro da temática proposta, a massificação de um diagnóstico errôneo e o acesso muitas vezes a um tratamento não adequado ao estágio de vida daquele idoso. Ah, não custa adicionar outra informação a essa receita desastrosa: o diagnóstico da DA é um diagnóstico POSSÍVEL, e depois de uma eliminação de outras alternativas e alguns exames de imagem ou clínicos, passa a ser considerado um diagnóstico PROVÁVEL, e isso é o mais perto que podemos chegar de algo assertivo, já que a certeza mesmo só é possível após a análise do tecido cerebral do idoso, e isso só é feito após o óbito.
A dica aqui é: busque uma segunda opinião, acompanhe o tratamento, observe melhoras, ganhos e perdas e esteja sempre em contato com a equipe multidisciplinar que acompanha o idoso. NUNCA, em hipótese alguma pense que algo não é significativo para relatar ao médico, qualquer informação pode contribuir para um diagnóstico bem feito e um tratamento adequado.